O ex-beatle toca em São Paulo neste domingo, dia 21, e na segunda-feira, dia 22. O site da Federação dos Bancários dos Estados do Rio e Espírito Santo (clique aqui) publicou artigo do jornalista do Sindicato, Marcio Maturana, sobre a apresentação de Paul McCartney em Porto Alegre, dia 7. O texto é reproduzido abaixo e pode ser visto também no site da Federação.
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Assina minha alma, Paul
Artigo do jornalista e fã dos Beatles Marcio Maturana
Domingo à noite. Faltam duas músicas para acabar o show em Porto Alegre. Mais de 50 mil privilegiados no gramado e nas arquibancadas do Estádio Beira-Rio estão plenamente realizados, agradecidos, sentindo-se fraternalmente donos do mundo porque têm consciência de que viveram as três horas musicais mais importantes de suas vidas. Lá no palco de 23 metros de altura e 62 de largura, um gigante sorri com felicidade sincera. Cantou, assoviou, dançou, brincou. Tocou baixo, guitarra, piano, violão, bandolim e um esquisito cavaquinho havaiano que ganhou de seu amigo George Harrison. Agora o gigante Paul McCartney lê no microfone alguns cartazes segurados por pessoas que conseguiram ficar ali mais perto.
“Assina meu braço para que eu possa tatuá-lo”, leu Paul. Era o que estava escrito no cartaz levantado pelas estudantes Elisa Delfino e Ana Paula Hining, de 19 e 18 anos. “Então venham aqui. Talvez leve três horas para vocês conseguirem chegar, mas eu espero”, brincou o beatle. Levou poucos minutos para todo o público se sentir presenteado com aquelas assinaturas. Palmas quando Elisa respondeu a Paul que era de Porto Alegre, algumas vaias quando Ana disse que era de Florianópolis. O Sir inglês não perdeu tempo para defender a donzela: “Qual o problema com Florianópolis? Eu sou de Liverpool!”.
O primeiro show sul-americano da turnê Up and Coming começou às 9h10, com apenas dez minutos de atraso, e durou 36 músicas talhadas em quase cinco décadas de inovadora criatividade. A primeira foi “Venus and Mars”, de 1973, que fala sobre a ansiedade de um fã antes da apresentação de seu ídolo. Depois vieram “Rock Show”, “Jet” e “All my loving”, a primeira no show da época dos Fab Four.
“Oi, tudo bem? Boa noite, Porto Alegre! Boa noite, Brasil”. Entre uma música e outra, o idioma passou do cara de Liverpool passou do português para o “gauchês”: “Mas bah, tchê!”, “Trilegal!”. Claro que logo a multidão começou a gritar “Ah, eu sou gaúcho!”. Paul levou a mão ao ouvido e logo participou do coro sulista. Quem acha Lula carismático precisa ver um show do Paul McCartney.
Depois de “Letting go” ele voltou a uma beatles song, “Drive my car”, seguida de “Highway” (do projeto de música eletrônica The Fireman), “Let me roll it” e do clássico beatle “The long and winding road”. Então o público ouviu “1985” e “Let me in”. Para anunciar a canção seguinte, Paul volta para o português: “Escrevi esta música para minha gatinha Linda. Mas esta noite ela é para todos os namorados”. E ataca com a balada “My love”, completando o romantismo com “And I love her”. Aguenta, coração! Entre as duas, a delícia folk “I`ve just seen a face”
A banda de Paul só tem fera. O baterista Abe Laboriel Jr, careca e gordinho, é um show à parte nas caras, bocas e brincadeiras. Os guitarristas Brian Ray e Rusty Anderson se alternam com maestria nos solos e riffs, e o tecladista Paul “Wix” Wickens faz desde um simples pianinho até uma orquestra completa, quando necessário.
Mas o beatle ficou sozinho no palco, com um violão em punho, para “Blackbird”. Sim, a orquestra de um homem só. Uma gigantesca bola imitando uma lua cheia foi baixando lentamente sobre o beatle para emoldurar a canção. Então gastou mais seu português: “Esta música eu fiz para meu amigo John”, disse Paul para começar a tocar a bela “Here today”, ainda sozinho no violão. Sozinho não. As 50 mil pessoas sentiam Lennon presente, no palco, sorrindo para o amigo (“Você sempre estava lá com o seu sorriso”, diz a letra da música).
Depois de duas músicas da carreira solo — “Dance tonight” e “Mrs Vanderbilt” — as beatles songs voltam: “Eleanor Rigby” e “Something”, anunciada por Paul em homenagem ao autor: “Esta música é para meu amigo George!”. A emoção foi amplificada pelo telão, que exibia imagens do guitarrista de Liverpool.
Pausa no momento Beatles para “Sing the changes” e a histórica “Band on the run”. Aí voltaram as clássicas do quarteto de Liverpool: “Ob-la-di, Ob-la-da”, “Back in the USSR”, “I’ve got a feeling”, “Paperback writer” e “A day in the life” — esta emendada com o hino pacifista “Give peace a chance”, de John Lennon. Para encerrar, Paul ao piano tocou “Let it be” e “Live and let die”, num show de fogos de artifício e luzes especiais. Terminou regendo o público no laralalá de “Hey Jude”: “Agora só os homens… Agora só as mulheres”, dizia, em português. A banda saiu do palco, a plateia continuou o laralalá, aplaudiu, pediu mais, gritou “Paul! Paul! Paul! Paul!”.
O cara de Liverpool voltou para o bis carregando uma bandeira do Brasil e mandou mais Beatles: “Lady Madonna”, “Get back”, “Helter skelter” (o primeiro heavy metal da história do rock) e “Yesterday”. Parou, brincou, leu cartazes e assinou os braços das garotas. Para encerrar, presenteou a todos com a histórica “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, seguida de “The end”. Perfeito.
Paul se despediu com “Até a próxima” e começou uma chuva de papel picado verde e amarelo. Ele gosta, divertiu-se tanto quanto o público. Aliás, os portões abriram com atraso (o prometido era às 17h) porque McCartney chegou às 16h15 para testar o som e não queria parar de tocar. Ficou uma hora e 15 minutos se divertindo com 21 músicas, sendo que a maioria não estaria no repertório do show: Matchbox, Honey don’t, Blue suede shoes, Coming up, Magical mistery tour, C’moon, Happy birthday (para um fã que levou cartaz), Sea melody, I want to come home, Don’t let the sun catch you crying, What a thrill we’re in Brazil (improvisação na hora), Every night, I’m looking through you, I’ll follow the sun, San Francisco Bay, Dance tonight, Ram on, Something, Bluebird, Yesterday, Lady Madonna.
Sábado de manhã. Falta um dia e meio para começar o show em Porto Alegre. Um privilegiado na bilheteria do Estádio Beira-Rio espera na fila para trocar pelo bilhete o voucher comprado semanas antes na Internet. Está tranquilo, até aliviado porque a fila não era tão grande, apesar da multidão circulando. Sabe que ainda faltam muitas horas para cantar, assoviar, dançar, brincar, ouvir o gigante. Chega sua vez, recebe o ingresso e percebe que junto veio um inesperado turbilhão de lágrimas e soluços, daqueles que não acontecem desde a mais terna infância. São minutos intermináveis constrangido com as pessoas que olham curiosas, sem saber que depois confessaria tudo por escrito num artigo sobre o show. Fácil explicar: simplesmente caiu a ficha de que, no dia seguinte, melodias e letras geniais que já marcaram todos os momentos importantes de sua vida e ainda apontam sabiamente os melhores caminhos nesta long and winding road estariam sendo tatuadas para sempre em sua alma.