Rotina de pressão dos bancários pode levar à depressão

A categoria bancária é uma das que mais adoecem no país e os transtornos mentais estão entre os mais frequentes motivos. Para a psicóloga, Renata Paparelli, professore e supervisora de estágios de Saúde do Trabalhador do Curso de Psicologia da PUC /SP, esse adoecimento é causado por conta do assédio organizacional. “São práticas de gestão voltadas para a produtividade que abrem espaço para o assédio moral como metas abusivas inatingíveis”, afirma.

 

A profissional aponta que o bancário que adoece é rechaçado por que ele é uma denúncia viva do que acontece dentro desse modelo organizacional. Ela salienta, ainda, que os trabalhadores adoecem em sua maioria por conta de processos de fusão entre bancos, como por exemplo, Bradesco e HSBC, Itaú e Unibanco, por conta de pressão por metas. “As fusões intensificam essa guerra de todos contra todos. Individualiza os problemas e destaca a competitividade exacerbada”, explica.

 

No entanto, enquanto nas instituições privadas os bancários são obrigados a atingir metas cada vez maiores, nos bancos públicos eles são pressionados e ameaçados a perder comissões e cargos.

 

O bancário que se encontrar nessas condições de adoecimento deve procurar o Sindicato para se orientar sobre os procedimentos a serem adotados. “Nem sempre os bancários nos procuram para relatar esses abusos ou assédios. Isso pode complicar a saúde dos profissionais que guardam para si as pressões sofridas no local de trabalho. O Sindicato pode ajudar com orientações e até mesmo intervenções junto à direção dos bancos para coibir esse tipo de comportamento de alguns gestores. Tudo, claro, garantindo o sigilo absoluto do bancário que nos procura”, afirma Pietro Cavallo, secretário de saúde do Sindicato dos Bancários de Niterói e região.

 

O Sindicato ainda conta com um canal exclusivo para denúncias de assédio moral no site da entidade. Basta o bancário preencher o formulário, relatar os abusos e enviar ao sindicato. O sistema garante sigilo absoluto e os diretores da entidade tomarão as medidas cabíveis de forma bem sigilosa.

 

O assédio pode levar à depressão

 

Tonturas, irritações frequentes, pesadelos, palpitações, falta de ar e outros sintomas que parecem isolados, mas que podem tornar-se depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico e outras doenças mentais. E tudo isso pode estar ligado ao trabalho do bancário. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo.

 

Mais uma vítima – Entre esses milhões de vítimas, está um bancário do Banco do Brasil afastado – entre breves voltas e novos afastamentos – desde 2008. “Prestei concurso e este foi o meu primeiro emprego. Dez anos depois, comecei a ter palpitações, procurei um cardiologista, mas o problema era psicológico: eu estava em depressão diante da pressão e da competitividade exacerbada que eu sofri”, disse.

 

E tal realidade vivida pelo jovem bancário de 34 anos é o resultado do sentimento dos trabalhadores que responderam à pesquisa sobre saúde da categoria divulgada em 2011, que aponta: 65% dos trabalhadores das agências, 63% dos gerentes e 52% dos que trabalham nas grandes concentrações sentem-se excessivamente pressionados.

 

Culpa é dos bancos – “Quando adoeci, me senti culpado, me senti fraquejado.” A fala do bancário do BB demonstra exatamente o sentimento dos trabalhadores adoecidos. “Até hoje tenho pesadelos com o gerente xingando e assediando a equipe. Alguns colegas de trabalho achavam que o problema era eu e não o banco”.

 

Renata Paparelli ressalta: “Eles se sentem culpados. Eu não conheço nenhum trabalhador com algum transtorno ou sofrimento psíquico que não tenha sido excelente trabalhador. Trata-se de pessoas muito dedicadas, que acreditam na empresa. Quando adoece, por conta do modelo de gestão do banco, a decepção é muito grande. Não se trata de fraqueza, de algo individual, mas de um trabalho penoso, produtor de sofrimento psíquico. Quando essa engrenagem, que é o trabalhador, adoece, é colocada de lado, como uma sucata. Toda a sua história no banco é descartada”, completa a psicóloga, alertando que esta é uma prática totalmente equivocada das instituições financeiras.

 

Fonte: Imprensa Seeb-Nit