Carlos Cordeiro da Silva
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
Publicado no jornal O Globo, em 10 de agosto de 2009
Estão cobertos de razão os clientes e a população quando reclamam das filas intermináveis nos bancos. Elas não somente escondem a falta de funcionários para agilizar o atendimento, como também refletem o fechamento de centenas de postos de trabalho, apesar dos altos lucros dos bancos, mesmo com a crise mundial.
Conforme pesquisa de emprego no sistema financeiro, lançada recentemente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) em conjunto com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os bancos fecharam 1.364 postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano. Eles desligaram 8.236 bancários e contrataram apenas 6.882. No ano passado, ao contrário, houve um aumento de 3.139 vagas no mesmo período.
Esse primeiro levantamento trimestral se baseia nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. As dispensas estão concentradas nos grandes bancos privados, demonstrando os efeitos das fusões do Itaú-Unibanco e Santander-Real e contrariando os compromissos assumidos publicamente pelos presidentes dessas empresas de que não haveria fechamento de postos de trabalho. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça, que aprovou essas fusões, precisa dizer para a nação quais foram as contrapartidas sociais.
O corte de empregos não foi maior porque houve mais contratações nos bancos públicos, sobretudo no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Mas ainda existe carência de pessoal para acabar com as filas. A Contraf-CUT e os sindicatos, junto com outras entidades representativas, têm feito mobilizações, como a campanha \”Mais empregados para a Caixa, mais Caixa para o Brasil\”.
Além de fechar vagas, a pesquisa aponta que os bancos reduziram a remuneração média dos bancários. Os desligados no primeiro trimestre recebiam renda média de R$ 3.939,84. Já os admitidos têm salários médios de R$ 1.794,46, uma diferença de menos 54,45%. É a tradicional política da rotatividade para achatar salários e turbinar lucros.
Essa facilidade dos bancos em dispensar, sobretudo os que têm mais tempo de casa e salários mais elevados, o que envolve o pagamento de indenizações maiores, rasga o discurso patronal de flexibilizar a legislação trabalhista para enxugar os encargos rescisórios. Além disso, nenhuma medida foi tomada para reduzir os bônus dos executivos, ao contrário de outros países.
Os dados mostram também que cresceu a discriminação contra as bancárias. Os bancos pagaram às mulheres contratadas menos do que aos homens. O salário médio das trabalhadoras admitidas nos três primeiros meses de 2009 foi de R$ 1.535,34, enquanto a remuneração média dos homens no mesmo período chegou a R$ 2.022,56 – uma diferença de 24,09% em prejuízo das bancárias.
Os bancos evidenciam, assim, que não fizeram a lição de casa, dando um mau exemplo para o país. E recursos não lhes faltam. Apesar da crise, os 50 maiores bancos lucraram R$ 7,5 bilhões no primeiro trimestre, segundos dados do Banco Central. Por isso, os trabalhadores defendem a ratificação do Brasil à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dificulta a demissão imotivada.
Está na hora de os bancos pararem de esconder essa realidade atrás de propagandas milionárias. Responsabilidade social se faz com geração de empregos, melhores salários, redução das filas, queda de juros, tarifas e spread, mais segurança e condições dignas de trabalho. Um outro sistema financeiro é urgente e necessário para o Brasil e o mundo!