“JE SUIS FRATERNITÉ”

Ontem, o atentado à sede do jornal humorístico francês Charlie Hebdo, em Paris, que matou 12 pessoas, seis delas jornalistas, e feriu 11, desencadeou pela internet a campanha “Je Suis Charlie”, contra o terrorismo e pela liberdade de expressão, que, hoje, já é um fenômeno mundial. Coisas do mundo on-line…
Provavelmente, o atentado, praticado por três encapuzados, que falavam fluentemente o francês, teria sido motivado pelas publicações do Charlie Hebdo que satirizam o Islamismo e Maomé, sob ameaças e ataques, desde 2006. Logo, o atentado teria sido praticado por muçulmanos. E, imediatamente, autoridades, políticos e grande parte da imprensa o atribuíram à Al-Qaeda, que, segundo muitos, estaria por trás de quase todos os atentados terroristas espalhados pelo mundo, desde os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 2001. Acredite se quiser… Quem sabe essas pessoas pensem também que a Al-Qaeda estaria por trás de quase todas as bombas caseiras que meninos explodem nas lixeiras dos banheiros das escolas?
A sede do Charlie Hebdo é próxima à Praça da Bastilha, um antigo presídio político do absolutismo francês, incendiado e derrubado em 14 de julho de 1789, quando se iniciou a Revolução Francesa, marcada pelo lema “Liberté, Égalité, Fraternité”, em português, “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. 
É justíssima a indignação contra o terrorismo, de todo tipo, inclusive o Terrorismo de Estado, muçulmano ou não, bem como a defesa da liberdade de expressão, em todas as nações. É justíssima a indignação contra todo tipo de autoritarismo, sejam os de pessoas, autoridades, políticos ou ditadores. 
Mas há que se ter muita calma nessa hora. Alguns muçulmanos são terroristas. Mas a maioria esmagadora dos muçulmanos não. A religião muçulmana não prega o terrorismo. As religiões pregam que o fiel leve sua fé ao próximo. Mas não através da violência. Isso foi criado por alguns líderes religiosos através da História. Foi assim nas Cruzadas católicas medievais. E é assim no Jihadismo islâmico do século XXI. 
Sob o manto democrático da campanha “Je Suis Charlie” podem se abrigar pessoas autoritárias, políticos autoritários e uma nova onda de suspeitas, denúncias, prisões, assassinatos e invasões de países, obviamente, muçulmanos. Podem se abrigar lobos sob peles de cordeiros de Deus para tirarem os pecados do mundo. É pecado alguém ser muçulmano, religião que, assim como o Cristianismo, tem origem no Judaísmo? 
Recentemente, no Brasil, a democrática eleição presidencial, sob o manto da liberdade de expressão, suscitou preconceitos, intolerâncias, inimizades, ódios e violências, felizmente poucas. Logo depois do resultado, o grupo derrotado passou a pregar o impeachment da reeleita, o golpe e a divisão do Brasil. 
Em 1991, a União Soviética se dividiu em 15 países. Era uma condenável ditadura. Mas era a segunda potência mundial. Em 2013, a Rússia, a mais rica das 15 repúblicas socialistas da ex-URSS, foi a 9ª economia do mundo. A democracia é sempre a melhor solução. E a divisão? Foi a melhor solução para os russos? 
Em 2008, a Ossétia do Sul se separou da ex-república socialista da Geórgia. E daí?… 
Entre 1861 e 1865, a Guerra de Secessão evitou a divisão de um país entre os estados escravistas e os abolicionistas: os Estados Unidos. A divisão teria sido a melhor solução para os norte-americanos? 
E você sabia que ontem, no mesmo dia em que o atentado à sede do jornal Charlie Hebdo matou 12 pessoas e provocou a imediata comoção da opinião publica mundial, além da campanha “Je Suis Charlie”, um carro-bomba explodiu próximo a uma fila de candidatos à academia de polícia de Sanaa, capital do Iêmen? 
Morreram 38 pessoas. Mas quem liga pra isso? Afinal, quem sabe onde fica o Iêmen? Quem já viajou pra Sanaa? E o que vale mais hoje, e há muito tempo, 38 iemenitas de Sanaa ou 12 franceses de Paris? 
Condenar o terrorismo, sim. O Islamismo e os muçulmanos, não. Por isso, “Je Suis Fraternité”.