Com um mês de duração, esta foi a maior greve dos bancários no Brasil de todos os tempos. Até agora, a paralisação mais longa havia durado 19 dias, na Campanha Salarial de 1946.
A história de greve dos bancários começou em 1932, mas não ganhou dimensão nacional. Em 18 de abril, os funcionários do Banespa de Santos iniciaram o movimento em protesto contra quatro decisões dos banqueiros: o fim da gratificação semestral, o fim do abono de 5% depois de cinco anos de serviço, as demissões e o valor das horas-extras noturnas. Os bancários de Santos ganharam o apoio dos colegas da matriz do banco em São Paulo e um dia depois os banqueiros aceitaram todas as reivindicações.
O movimento de 1932 foi um aquecimento para a primeira greve nacional, que ocorreria dois anos depois. Nos dias 5, 6 e 7 de julho de 1934, bancários de norte a sul do país cruzaram os braços em favor da aposentadoria com 30 anos de serviço e 50 de idade, estabilidade no emprego e pela criação de uma caixa única de aposentadorias e pensão para a categoria. O movimento conquistou a adesão de oito dos dez sindicatos de bancários e a greve foi vitoriosa, com todas as reivindicações atendidas.
Depois de um período de 12 anos os bancários voltaram com tudo, para fazer o que seria a maior greve nacional da categoria até aqui. Em 1946, após a eleição de Eurico Gaspar Dutra (PSD) para a presidência da República, pipocou uma série de manifestações por todo o país. Só nos dois primeiros meses estouram sessenta paralisações, que culminaram com a fundação de uniões sindicais municipais, sob a liderança dos bancários.
A principal reivindicação da categoria era o salário mínimo profissional, já concedido pelo governo a outros setores. No dia 23 de janeiro, o Rio de Janeiro entra em assembléia permanente para aguardar uma resposta do governo. O ministro do Trabalho, Roberto Carneiro Mendonça, ameaça então retirar a proposta se os bancários entrarem em greve. No dia seguinte a categoria parou na capital carioca e o movimento se espalhou por todo o país. A segunda greve nacional parou mais de 40 mil bancários por dezenove dias. Em 11 de fevereiro, os banqueiros oferecem uma trégua: garantiram que os grevistas não seriam punidos e que receberiam pelos dias parados. Já o governo disse que continuaria analisando o projeto. A categoria volta ao trabalho no dia seguinte.
Quinze anos depois os bancários partiam para sua 3ª greve nacional. No dia 21 de outubro de 1961, a Campanha Salarial entrava num impasse: os bancários reivindicavam 60% de reajuste e os banqueiros negavam. A greve começou pelos bancos públicos, já que os privados ainda negociavam no TRT. O primeiro-ministro, Tancredo Neves, e o ministro do Trabalho, Franco Montoro, intermediaram as negociações e conseguiram arrancar do governo federal um reajuste de 40%. A greve termina em uma semana, com o pagamento dos dias parados, mas a Campanha continuava nos bancos privados. Em 7 de novembro os funcionários repetem o feito dos colegas do setor público e param contra o reajuste escalonado de 30 a 50%. Dois dias depois, o TRT oferece 60% de aumento e a greve acaba.
Em 1963, apesar do governo democrático e popular do presidente João Goulart, o país continuava passando por graves problemas, como a inflação. Entre várias greves, os bancários paulistas pararam em 21 de janeiro para reivindicar o pagamento das gratificações de balanço, o 13º sem compensação e o fim dos 30 minutos a mais na jornada para compensar o sábado. Os banqueiros endurecem e os bancários decidem esperar a Campanha Salarial, avaliando que o movimento não tinha força. A Campanha começou, mas a situação não mudou. Sem avanços, os bancários decidem parar por 24 no dia 17 de setembro. A greve se prolonga por sete dias em todo país e termina com os banqueiros pagando acordos superiores aos determinados pela Justiça do Trabalho.
Depois do golpe militar de 1964, o movimento sindical só conseguiu se rearticular no final do regime. Em 1978, os bancários arriscam uma paralisação sob liderança da Oposição Bancária. Com palavras de ordem do tipo “65% ou greve”, a categoria assumiu uma posição de enfrentamento e deflagrou a greve numa quinta-feira do final de agosto. No dia seguinte, a polícia invade e fecha o Sindicato de São Paulo e prende muitos bancários. Na segunda-feira não havia mais greve e os trabalhadores ainda tiveram de fechar um acordo bastante desfavorável no TRT.
Só em 1983, com a abertura política, os trabalhadores ficaram mais a vontade para protestar. No dia 21 de julho, a greve geral envolveu cerca de 2 milhões de pessoas em todo o país e, poucos dias depois como resultado da mobilização, nasce a CUT em agosto.
Em 1985, a nova república ainda engatinhava, mas já mostrava a que veio. Os banqueiros se recusavam a negociar e, com a opinião pública ao lado dos bancários, foi aprovado um dia de luta para 28 de agosto. Em São Paulo foi realizada uma passeata com 30 mil pessoas, a maior manifestação em massa realizada pela categoria. No dia 10 se setembro os bancários decidem entrar em greve por tempo indeterminado. Era a quinta greve nacional da categoria e a primeira depois de 1963. No dia 13, a maioria das capitais volta ao trabalho, depois que o TST instaurou um dissídio. Embora a proposta aprovada não tenha contemplado os anseios dos bancários, a greve de 1985 foi um marco para o movimento sindical. Ela materializou várias teses defendidas desde 1979, sobretudo a importância da identidade nacional.
Um ano depois, em meio ao Plano Cruzado, os banqueiros recusavam atender as reivindicações dos empregados. No dia 11 de setembro de 1986, 500 mil bancários cruzam os braços em todo o país. Um dia depois o TRT do Rio julgou a greve ilegal. No dia 13 a greve acaba sem acordo, após uma violenta repressão da Polícia Federal.
Em 1987 a inflação acelera e os bancários vêem seu poder aquisitivo no chão. O resultado foi a primeira grande greve nacional fora da Campanha Salarial. Conhecida como “bola de neve”, devido ao crescimento diário de adesões, a greve atinge 80% da categoria. Sem perspectiva de acordo, o movimento dura nove dias, mas mostra o estágio de organização da categoria. Em 1988, os bancários também precisam entrar em greve para ampliar as conquistas.
Depois de uma década de luta pelas eleições diretas para presidência da República, em que os bancários foram linha de frente nas manifestações, o primeiro presidente eleito decepciona os trabalhadores. Em 1990, os 300 mil bancários respondem ao arrocho do Plano Collor com uma greve nacional de sete dias, pela reposição das perdas e estabilidade no emprego. Este movimento fazia parte da greve geral convocada pela CUT e CGT. No entanto, o movimento mais importante para os bancários no ano foi em setembro, por conta da Campanha Salarial. Com uma greve de 13 dias, os bancários saíram vitoriosos, com um reajuste de 105% entre outras conquistas.
A última greve nacional dos bancários já completa 13 anos. Em 1991, com três dias de paralisações a categoria conseguiu repor as perdas salariais do ano. Apesar da conquista, teve que enfrentar uma forte repressão policial, fato que se repetiria em 2004.
Fonte: Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT