O grupo terrorista palestino Hamas tornou-se também um partido político e, democraticamente, em janeiro, venceu as eleições parlamentares e hoje tem ministros na ANP (Autoridade Nacional Palestina), região de autonomia limitada na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, em Israel.
Os Estados Unidos, que se diz defensor da Democracia, não gostou do resultado da eleição, no que foi, como sempre, imediatamente seguido pela Inglaterra e outros tradicionais capachos dos estadunidenses.
A pretexto de não manter relações com governos terroristas, apesar de o Executivo palestino ser de um outro partido, o não-terrorista Fatah, o bloco ianque promete boicotar economicamente a ANP, negando empréstimos e ajuda humanitária. E estão tentando legitimar esse boicote na ONU (Organização das Nações Unidas).
Em 1947, a ONU aprovou a criação do Estado de Israel e o da Palestina. No ano seguinte, Israel foi criado, a Palestina não. E, até hoje, parece que só os palestinos se incomodam com isso, pois a “comunidade internacional” não diz nada há 59 anos.
Israel também está no coro do boicote, prometendo não repassar à ANP os impostos pagos pelos cidadãos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e recolhidos pelo governo israelense. Também promete interromper as negociações para a finalização da retirada dos judeus dos assentamentos da Cisjordânia, iniciada em 2005, e para a criação do Estado da Palestina. Assim como Bush, Israel não negocia com terroristas.
Apesar de não negociar com terroristas, o governo israelense já cometeu um atentado contra a ANP este ano: bombardeou e derrubou uma prisão em Jericó para seqüestrar prisioneiros palestinos e os levar para julgamento mais severo em Israel.
O boicote econômico estrangeiro e o não repasse de impostos por Israel à ANP fará com que a situação da Palestina se torne ainda mais convulsiva, pois a região já vive uma profunda crise econômica, com cerca de 50% da população abaixo da linha da pobreza.
Sem ajuda internacional e sem impostos, a pobreza vai aumentar na ANP. E, com mais pobreza, mais ódio aos Estados Unidos e a Israel. E, com mais ódio, mais terrorismo palestino.
O terrorismo palestino, há décadas, é a desculpa preferencial para a não criação do Estado da Palestina, prometido pela ONU, em 1947, e pelo Acordo de Oslo, em 1993.
Quando o terrorismo aumenta, as negociações para a criação do Estado Palestino param. E, quando as negociações param, o terrorismo aumenta novamente.
Alguns até fingem não saber, mas a única saída para o fim do terrorismo palestino em Israel é a criação do Estado da Palestina. Isso já aconteceu no Líbano, que sofreu 18 anos de ocupação israelense, entre 1982 e 2000, época em que o grupo Hizbollah promoveu uma série de atentados em Israel. Quando Israel se retirou do Líbano, o terrorismo do Hizbollah acabou.
Tudo indica que a “comunidade internacional” não quer criar o Estado Palestina. O Hamas é a desculpa da vez para que isso seja adiado mais uma vez.
E o que é que você tem com isso, cidadão brasileiro?
Quando a cidadania e a democracia são ameaçadas em qualquer lugar do mundo, qualquer país está mais ameaçado de se tornar um dia um novo Afeganistão, um novo Iraque, uma nova Palestina. Por isso, devemos defender sempre o respeito às urnas e, portanto, hoje, o Hamas como representante legítimo do povo palestino, independente de seus atentados, que devem ser punidos, e que independem da presença do Hamas no Parlamento palestino.
Não queremos com isso nos posicionar ao lado dos palestinos na defesa de a quem pertence a Cisjordânia, a antiga Canaã, em termo sagrados, religiosos.
Queremos defender o direito do povo palestino a sua auto-determinação. E defendemos o mesmo para o povo israelense. Defendemos a criação do Estado Palestino e a continuidade do Estado de Israel, posição semelhante a do governo brasileiro.
Defendemos os dois estados como a única forma de defender inocentes dos atentados, sejam eles dos homens-bomba palestinos ou dos mísseis do governo de Israel (MQ).