Fórum debate impactos da tecnologia

 

A 2ª Reunião da Comissão Trilateral para a Digitalização Financeira foi realizada, na tarde da última sexta-feira (27), dentro da programação do Fórum Sindical Internacional, na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em São Paulo.

 

A técnica da Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Cátia Uehara iniciou o trabalho, com uma apresentação sobre a queda de emprego.

 

Segundo os dados apresentados, entre 2013 e 2023 foram mais de 77 mil postos de trabalho cortados pelos bancos, só no Brasil. Entre 1994 e 2021, o peso da categoria bancária no emprego formal no ramo financeiro do país caiu de 80% para 44%. E, entre 2022 e 2019, a sindicalização no ramo financeiro brasileiro sofreu queda de 45,5% para 19,5%.

 

“Muito dessa redução foi motivada pela digitalização dos processos bancários”, afirmou Cátia.

 

Em sua apresentação, Cátia mostrou que os modelos de trabalho em que as plataformas digitais obtêm o máximo de lucro com a mão de obra, sem que haja qualquer vínculo empregatício, foram criados para precarizar o trabalho bancário. Esse fenômeno ganhou o nome de uberização ou plataformização de serviços.

 

“Apesar de se apresentarem como mais flexíveis e darem mais liberdade aos trabalhadores, as empresas detentoras dos aplicativos devem ser responsabilizadas em termos de relações de trabalho no campo do direito trabalhista”, explicou a técnica.

 

A relação de subordinação empregado-empregador, de acordo com a explicação de Cátia, acontece por meio da gestão dos algoritmos, justamente definida pela empresa-plataforma.

 

“A gestão algorítmica estabelece uma relação de subordinação dos trabalhadores e trabalhadoras: regras e ritmo de trabalhos, jornadas, bonificação etc.”, ressaltou Cátia Uehara, acrescentando que a falta de regulação da atuação dessas empresas tem produzido relações de trabalho precarizadas, tem resultado em subtributação (tributação reduzida) dessas empresas-plataforma, com destaque para a seguridade social, com custos que são financiados pela sociedade/Estado sem a contrapartida da empresa.

 

Efeitos da tecnologia

 

Os efeitos no trabalho e nas relações trabalhistas da incorporação de tecnologia no sistema financeiro foram destaques nas apresentações dos assessores técnicos da Asociación de Bancarios del Uruguay (AEBU), Aníbal Peluff e Soledad Giudice.

 

De acordo com Peluff, o setor financeiro dispõe de condições especiais que o tornam um dos setores pioneiros na incorporação de tecnologia e automação de processos.

 

Peluff explicou que “o que se oferece é um serviço que pode ser praticamente digitalizado na sua totalidade. O outro fator é o humano onde as pessoas estão com a sua capacidade de resolver problemas, de ter empatia, de ser criativas, ou de dar confiança, precisamente “é um setor onde a confiança é o mais importante”.

 

Soledad Giudice afirmou que a negociação coletiva é importante para definir o uso de algoritmos, a definição de sistemas e metas de avaliação de desempenho, assim como a abordagem dos impactos diretos nas condições de trabalho e programas de saúde.

 

“As formas de organização sindical precisam ser repensadas, com uso das novas tecnologias para o fortalecimento da comunicação com os trabalhadores, mas também em termos de estrutura, ampliando a pluralidade e adaptando o movimento às transformações do mercado de trabalho no setor. Precisamos nos reinventar”, disse.