Pude testemunhar na partida com o Chivas, em Guadalajara a forma como agiu a torcida mexicana. O Chivas conta com a maior torcida no México. Milhões de torcedores apaixonados pelo time.
No hotel onde estávamos, no dia anterior ao jogo, transitavam torcedores com a camisa do Inter e com a do Chivas. Riam, trocavam cumprimentos e brincadeiras.
À medida que a partida se aproximava, testemunhei nos canais de esporte um grande respeito ao Inter. Nenhuma brincadeira ou comentário que diminuísse a nossa equipe.
Nos treinos e nos deslocamentos da delegação do Inter, nenhuma agressão, nenhum palavrão, nenhuma provocação. Transitamos livremente por Guadalajara.
Na noite do jogo, um espetáculo de educação e respeito.
No início, temi pelo fato de ocuparmos um camarote que praticamente não contava com divisória com os outros, repletos de torcedores do Chivas.
Veio o primeiro gol deles, gritos e festejos. Fiquei imaginando o que ocorreria quando houvesse gol do Inter. Lá estavam poucos torcedores do Inter, praticamente ocupando, lado a lado, os mesmos lugares com os mexicanos.
Veio o gol. Pulei, gritei, gesticulei, assim como toda a nossa torcida.
Com o canto do olho dei uma espiada para o lado. Me deparei com um rapaz mexicano, ostentando a camiseta do Chivas e me oferecendo alegremente um copo de tequila.
Veio o segundo gol do Inter, virada! Novos festejos no camarote da direção do clube gaúcho e, ao lado, mexicanos estendendo a mão para nos cumprimentar pela vitória.
Não houve o foguetório no hotel da delegação, tradicional no Brasil, na noite anterior ao jogo, que de nada adianta, salvo incomodar vizinhos e pessoas que precisam descansar para o trabalho do dia seguinte. Não houve um tapa ou objeto lançado no ônibus dos visitantes, não houve um palavrão.
Aquilo me fez refletir muito sobre o comportamento que adotamos muitas vezes por aqui. Além disso, me senti encorajado a pedir aos nossos torcedores, às torcidas organizadas, aos colorados de Porto Alegre, para que tratem bem os nossos irmãos mexicanos. Há espaço no futebol para a educação e o respeito com o adversário.
Extraído e adaptado do artigo de Roberto Siegmann, vice-presidente de serviços especializados e assessor de futebol do Internacional de Porto Alegre, publicado no sítio www.internacional.com.br, em 17 de agosto de 2010 (MQ).