A taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) passou de 13,75% para 13,25%. O anúncio foi feito, nesta quarta-feira (2), pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A redução do índice acontece pela primeira vez em três anos, o que resultou no aumento da pressão, em especial nos últimos meses, por parte de diversos setores da sociedade civil contra os juros altos praticados no país.
A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, falou sobre a redução da Selic.
“Essa redução anunciada pelo BC hoje poderia ser maior, mas é melhor do que o mercado financeiro queria, que era o 0,25%. No último ano, o Banco Central manteve a Selic no patamar de 13,75%. Com isso, a entidade praticou o maior choque de juros, em 20 anos, limitando a atividade econômica do país”, destacou.
Segundo Juvandia, com a Selic alta, fica mais alto o custo do crédito para as pessoas e para as empresas, significa pagar mais caro pela casa própria, pelo carro.
“Logo o inverso também acontece: a Selic mais baixa dinamiza a economia e melhora a vida da população e do setor produtivo, com mais recurso para gastar e investir”, completou Juvandia.
Impacto no orçamento federal
O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, explica que a Selic elevada também aumenta o custo do governo com o pagamento de juros dos títulos públicos, grande parte com vencimentos vinculados à taxa básica de juros.
“Com a Selic em 13,75%, como esteve até agora, considerando o estoque da dívida do setor público no patamar de cerca de R$ 6 trilhões, e que cerca de 64,5% desse estoque têm a Selic como indexador, cada ponto percentual significa um aumento de custo da dívida anual de cerca de R$ 38 bilhões. Logo, a decisão do Copom de hoje libera do orçamento da União em cerca de R$ 19 bilhões“, pontuou.
Segundo Gustavo Cavarzan, em janeiro de 2021, quando a Selic estava em 2%, o governo federal gastava em 12 meses cerca de R$ 316 bilhões, com juros da dívida (4,25% do PIB).
“Em abril de 2023, quando a Selic já estava sendo mantida em 13,75%, o gasto de 12 meses com os juros subiu para R$ 659 bilhões (6,47% do PIB)”, completou.
Para Juvandia, esse valor, mobilizado do orçamento do Estado com os detentores privados dos títulos da dívida pública, é um valor que deixou de ir para educação, saúde ou infraestrutura.
“Por isso que o Brasil é chamado de paraíso dos rentistas e isso tem que acabar. Não vamos esquecer que os maiores credores da dívida pública são as instituições financeiras. Ou seja, os que ganham, na realidade, com a Selic elevadíssima, e não a população”, ressaltou Juvandia Moreira.
CUT faz crítica
Em nota sobre a decisão do Copom, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) avaliou como insuficiente a redução da Selic, “mantida em patamares superiores a 13% desde agosto de 2022”.
“As medidas adotadas pelo governo do presidente Lula reduziram a inflação, valorizaram o real, aumentaram a produção interna e reduziram o desemprego para 8%, o menor percentual dos últimos oito anos. Além disso aprovou o novo arcabouço fiscal e a primeira fase da reforma tributária na Câmara dos Deputados. Neste contexto, é injustificável manter a taxa Selic em patamares superiores a 13%”, observou a entidade.
*Fonte: Contraf-CUT