O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro (foto), respondeu nesta terça-feira, dia 8, ao artigo do negociador da Fenaban, Magnus Apostólico, publicado no jornal O Globo.
O presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro (foto), respondeu nesta terça-feira, dia 8, ao artigo do negociador da Fenaban, Magnus Apostólico, publicado no jornal O Globo. A resposta foi dada sob forma de artigo intitulado “A irresponsabilidade social dos bancos”.
“Em vez de escrever artigos para jornais com afirmações distorcidas, que agridem o movimento sindical e não ajudam o processo negocial, o negociador da Fenaban deveria agilizar a formulação de propostas para construir o acordo nacional com os trabalhadores”, destaca o dirigente sindical.
Leia a íntegra do artigo de Carlos Cordeiro:
A irresponsabilidade social dos bancos
Carlos Cordeiro
Presidente da Contraf-CUT
A Fenaban desperdiçou uma boa oportunidade para reconhecer os erros do sistema financeiro e apresentar propostas para mudar a relação dos bancos com a sociedade, valorizar os bancários, melhorar o atendimento aos clientes e à população e colocar em prática o discurso de responsabilidade social. É o que podemos deduzir nitidamente do artigo “Dentro dos bancos”, do superintendente de relações do trabalho e negociador da Fenaban, Magnus Apostólico, publicado por O Globo no dia 1º de setembro, véspera da terceira rodada de negociações com o Comando Nacional dos Bancários, em resposta ao artigo “Por trás das filas”, assinado por mim e veiculado pelo mesmo jornal no último dia 10 de agosto.
A réplica dos banqueiros não explica os resultados negativos da pesquisa de emprego nos bancos, elaborada trimestralmente pela Contraf-CUT e Dieese. Enquanto as 21 maiores instituições financeiras do país lucraram R$ 14,3 bilhões no primeiro semestre deste ano, os bancos desligaram 15.459 bancários e contrataram apenas 13.235, o que significa o fechamento 2.244 postos de trabalho no mesmo período, o que é injustificável para o setor mais lucrativo da economia e que não foi afetado pela crise mundial.
O levantamento mostra que os bancos, sobretudo os privados, descartam trabalhadores com salários maiores e admitem novos com remuneração inferior. É a velha política da rotatividade para baixar custos e turbinar lucros. Muitos demitidos possuem formação acadêmica às custas dos próprios bancários, pois há bancos, inclusive na mesa de negociações, que ainda se negam a conceder bolsas de estudo. Essa realidade contrasta frontalmente com a afirmação do porta-voz da Fenaban, para quem “nenhum setor econômico oferece carreira tão atrativa e ágil como o fazem os bancos”. Se fosse assim, os bancos teriam Planos de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS), com critérios justos e transparentes.
Aliás, também não procede outra afirmação do representante dos banqueiros de que “os bancos, públicos e privados, ampliam os créditos e financiam a recuperação econômica”. Na verdade, quem garantiu crédito para o enfrentamento da crise foram as instituições públicas, que reduziram juros e spread, sob protestos do presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal. Os bancos privados obtiveram uma série de regalias do Banco Central, como a liberação dos depósitos compulsórios, mas retiveram os recursos para investir em títulos públicos, em vez de oferecerem crédito para alavancar a economia.
Por essas e outras, uma das reivindicações centrais dos bancários é a preservação do emprego, a ampliação das contratações, o fim das terceirizações e a aplicação das regras da Convenção 158 da OIT, que proíbe demissões imotivadas. Isso significa que a proposta dos bancos às reivindicações da categoria não pode ser meramente econômica, mas deve incluir emprego, saúde, segurança, igualdade de oportunidades e melhores condições de trabalho.
O negociador da Fenaban se vangloria que os bancários são a única categoria no Brasil que possui uma convenção coletiva válida para os trabalhadores de todos os bancos. Faltou dizer que essa é uma das grandes conquistas dos bancários, alcançada em décadas de lutas com mobilizações e greves. O primeiro acordo nacional, englobando bancos privados e estaduais, foi assinado em 1992. Os bancos federais passaram a subscrever a convenção em 2006, consolidando a unidade da categoria.
O coordenador das negociações da Fenaban admite que o sucesso dos bancos deve-se à “qualidade dos profissionais que informam a atividade bancária”. Suas palavras, no entanto, contradizem a postura dos bancos na mesa de negociações, uma vez que até agora se recusam a distribuir parte de seus lucros astronômicos e atender as justas reivindicações dos trabalhadores, que pedem aumento real, proteção do emprego, mais contratações, valorização do piso salarial, novo modelo de PLR, fim do assédio moral e das metas abusivas e segurança contra assaltos e sequestros.
Ao final do artigo, o representante patronal queixa-se que “enquanto outros sindicatos de trabalhadores lutam para conseguir unidade com os seus empregadores, a Contraf não precisa se preocupar senão em denegrir a imagem dos bancos e da própria categoria bancária”. Em nenhum momento, nós usamos a palavra “denegrir” em nossos textos, em nome da coerência de nossa luta histórica pela abolição de qualquer manifestação de preconceito e discriminação. Além do mais, não atacamos as instituições, mas sim mostramos os abusos praticados com os trabalhadores, os clientes e a sociedade e cobramos respeito e responsabilidade social.
Desta forma, a principal missão da Contraf-CUT é defender de forma intransigente a dignidade, o bem-estar e os direitos dos trabalhadores do ramo financeiro, desrespeitados no dia-a-dia pelos bancos e desvalorizados na mesa de negociações. Ao mesmo tempo, a entidade nacional da categoria luta pela regulamentação do sistema financeiro, estimulando o seu papel social e indutor do desenvolvimento.
Por fim a Fenaban, através do seu negociador, poderia utilizar melhor o seu tempo. Em vez de escrever artigos para jornais com afirmações distorcidas, que agridem o movimento sindical e não ajudam o processo negocial, deveria agilizar a formulação de propostas para construir o acordo nacional com os trabalhadores. Para nós, responsabilidade social começa em casa e está na hora de os bancos valorizar quem constrói os seus lucros e os resultados, ampliar e baratear o crédito e prestar serviços mais acessíveis para a sociedade.
Fonte: Contraf-CUT
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