Bradesco avança na tecnologia em busca de segurança

 

O Bradesco entrou para o mundo das supermáquinas da computação quântica, tecnologia ainda experimental com capacidade de processamento exponencialmente maior que os computadores tradicionais.

 

A nova tecnologia é capaz de resolver enigmas matemáticos e desafios da humanidade nas áreas de saúde pública, mudanças climáticas, logística, entre outras, que lidem com múltiplas variáveis e complexidade de dados.

 

Mas a principal motivação do banco é garantir a segurança de informações críticas, como senhas, dados de clientes, acesso a recursos, que poderão ter a criptografia quebrada se essas supermáquinas caírem nas mãos de “hackers” ou do crime organizado.

 

Para se precaver desse tipo de situação, o banco contratou os serviços de segurança da IBM, que tem a maior frota de computadores quânticos e desenvolveu o aparelho com a maior capacidade hoje no mundo, chamado Osprey, de 433 qubits (unidade de bit quântico) e que chegará a 1.000 qubits ainda este ano.

 

A ideia é fazer uma varredura de dados potencialmente sensíveis e vulneráveis, acumulados durante décadas de operação com clientes, para colocá-los sob a proteção de uma criptografia resistente aos computadores quânticos que surgirão, chamados de algoritmos pós-quânticos.

 

No Bradesco, a primeira leva desse trabalho de “upgrade” de algoritmos para o padrão pós-quântico se dará com as aplicações do “open finance”, que permitem o compartilhamento de dados dos clientes com outras instituições financeiras e que começaram a funcionar não muito tempo atrás. Sistemas e serviços mais antigos – o chamado legado tecnológico, que os bancos se debruçam rotineiramente para atualizar- serão endereçados mais tarde.

 

A diretora de tecnologia do Bradesco, Cíntia Barcelos, explica que a  computação quântica não vem para substituir a clássica.

 

“As duas vão coexistir. A computação quântica chega para resolver problemas que hoje demorariam anos para se executar. Uma das consequências no futuro pode ser o impacto nos sistemas de proteção de dados. Entendemos que nossa preparação é prioridade neste momento. A segurança é inerente à nossa missão como banco”, disse Cíntia.

 

Cientista de dados e “embaixadora quântica” da IBM no Brasil, Ana Paula Appel, afirma que os especialistas da casa ajudarão o banco a identificar aplicações e algoritmos criptográficos sob risco de ataques.

 

Com base nessa avaliação, o Bradesco planeja criar uma metodologia para determinar outras aplicações que possam se beneficiar de tecnologias pós-quânticas e prepará-las para integrar os algoritmos resistentes aos futuros computadores quânticos. Também deve formar internamente profissionais aptos a trabalhar com essa tecnologia.

 

O banco está particularmente interessado em testar a novidade para resolver dilemas da avaliação de derivativos, gestão de riscos e portfólios, elaboração de cenários macroeconômicos e otimização do uso da infraestrutura de distribuição de dinheiro nos caixas eletrônicos.

 

São todas operações complexas, sendo algumas bastante custosas, que demandam tempo e capacidade de processamento dos computadores tradicionais, mas que em tese poderão ser facilmente assumidas pela tecnologia quântica.

 

“À medida que as capacidades da computação quântica avançam, isso pode nos permitir um dia ver uma maior eficiência operacional e a resolução de problemas que atualmente são considerados difíceis para os computadores clássicos. Esperamos que a tecnologia possa ser amplamente utilizada em um período de cinco a dez anos”, disse Barcelos.

 

Appel, da IBM, lembra que a tecnologia ainda é experimental, não está disponível para uso comercial, e os dados provenientes dos sistemas legados precisam ser adaptados para funcionar em softwares quânticos.

 

“Para ter um modelo rodando em quantum, precisa conectar com os bancos de dados e com as transações dos clientes vindas do computador clássico”, disse a cientista.

 

*Fonte: Valor Econômico