Durante mais de 60 – em períodos intermitentes – a economia brasileira foi monitorada pelo Fundo Monetário Internacional-FMI, credor do Brasil até 2007.
Controlado pelos países ricos e grandes bancos, o FMI impõe aos emergentes e pouco desenvolvidos as políticas fiscais, monetárias, cambiais e de privatizações, convenientes aos interesses do capital em escala global. As chamadas condicionalidades dos programas do Fundo, nas últimas três décadas, foram ruinosas à maioria dos países pobres da África, Ásia e América Latina.
No Brasil, o atrelamento às políticas do FMI, no período mencionado, levaram à hiperinflação, à recessão, ao endividamento público e privado, ao desemprego estrutural em massa, ao arrocho salarial, à concentração da renda e da propriedade e ao empobrecimento das massas populares.
A formação social brasileira ficou marcada pela desigualdade e a exclusão. Aumentaram o crime, a violência, os conflitos de massa e a população carcerária.
O Fundo não foi capaz de prevenir a crise em andamento, foi conivente com sua eclosão, mas se prepara a desempenhar o antigo papel intervencionista , mais uma vez, a serviço dos países ricos e segundo seus interesses, na imposição de programas de ajuste às economias periféricas e dependentes.
Após pequenas reformas cosméticas e o auxílio da diplomacia internacional dominante, no encontro do G-20, em Londres, o Fundo estaria em vias de receber aportes de recursos de 47 dos 185 países-membros, em condições de participar de novo programa, apresentado como uma das soluções milagrosas ao enfrentamento da crise, mal disfarçando o socorro a bancos europeus, nos países do Leste, e a dificuldades de outros com a balança de pagamentos.
Consta que o governo brasileiro aceitou participar dessa empreitada, sob alegações especiosas, que vão desde o interesse em aumentar o fluxo de crédito e deter a queda do comércio mundial, até motivações fúteis do tipo “ser chic”, relacionadas a prestígio diplomático e veleidades de potência.
Supostas vantagens da aplicação das reservas do País, no Plano de Transações Financeiras – PTF, recém-criado pelo Fundo, são invocadas por nossas autoridades econômicas.
Juros elevados seriam auferidos, claro que em detrimento dos países tomadores, associando o Brasil a práticas de especulação e rentismo.
O atual governo que, a duras penas e de forma bastante onerosa, conseguiu desvencilhar-se da dependência financeira do FMI, comete, a nosso ver, um equívoco politico ao vincular-se a projeto de uma instituição que, durante longo período da história recente, foi algoz de nosso povo. Além de uma imprudência, em termos de utilização das reservas em moeda forte, na medida da deterioração das contas externas, por conta do tombo nas exportações e da contração do crédito e do comércio mundial.
Acrescem uma dívida pública ainda elevada e um passivo externo, cujas remessas de lucros, dividendos e da conta de serviços dobraram em seis anos. E, apenas nos últimos dois anos, foram o dobro da entrada de investimentos estrangeiros.
A situação cambial não é confortável, a ponto de ter-se cogitado do controle das importações, o País não é credor externo relevante e a crise mundial ainda estaria longe do fim.
Então, emprestar ao FMI não parece uma prioridade, em face do quadro recessivo e do desemprego que aí estão.
Pode ser \”chic\” para o governo, mas o povo poderá ficar ainda mais longe de, um dia, ser \”chic\”.
(*) Antonio Fausto é ex-sindicalista de Niterói e Região e atual conselheiro da Associação dos Antigos Funcionários do Banco do Brasil (AAFBB)