Morre Luiz Gushiken, bancário, sindicalista e ex-deputado

Funcionário do antigo Banespa, presidiu a entidade entre 1985 e 1986, quando se elegeu deputado federal constituinte e ajudou a construir a Constituição Cidadã de 1988 durante a redemocratização do Brasil

O ex-deputado e ex-ministro de Comunicações de Lula, de 2003 a 2006, Luiz Gushiken, um dos fundadores do PT, morreu às 19h20m desta sexta-feira, aos 63 anos, de insuficiência de múltiplos órgãos provocado por sangramento e obstrução intestinal. O petista lutava contra um câncer de intestino há 12 anos. Ele passou os últimos dias de vida no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se despedindo dos amigos mais íntimos. Foram ao hospital o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, além de centenas de amigos, parlamentares, dirigentes petistas e da CUT.

– Como ele ficou lúcido o tempo todo, apesar da morfina que tomava, recebeu homenagens em vida – disse Paulo Fratesch, secretário de Comunicações do PT.

A romaria dos petistas ao seu quarto de hospital teve uma justificativa: todos consideravam Gushiken um dos maiores “quadros” do partido. Ele se aproximou de Lula quando militava no Sindicato dos Bancários no início da década de 80. Quando Lula estava preso por causa da sua participação na greve dos metalúrgicos do ABC, em 1980, Gushiken fez um ato para arrecadar fundos para ajudar Lula a sair da cadeia no Doi-Codi. Organizou um grande jogo de xadrez no centro da cidade com a presença do enxadrista Herbert de Carvalho, e por “afrontar” a ditadura com esse ato, também foi preso no Doi-Codi. Gushiken foi preso quatro vezes na ditadura militar (de 1964 a 1985).

Lula o tratava por “China”, por causa de sua descendência nipônica e do bigodinho e barbicha parecidas como as usadas pelos chineses na época de Mao-Tse Tung, um dos líderes comunistas que ele admirava, além de Leon Trotsky, a quem venerava e era seguidor de suas teses. Por ser trotskista, Gushiken acabou militando na tendência esquerdista Liberdade e Luta (conhecida por Libelu). A Libelu era o braço do movimento estudantil na Organização Socialista Internacionalista (OSI), que funcionou durante o final da década de 60 e início da década de 70, desafiando o regime militar.

– Gushiken era generoso, leal e dedicado militante petista. Coordenou as campanhas de Lula de 89 e 98 e só não coordenou as demais por conta da doença (câncer). Era perspicaz, corajoso e sempre surpreendia a todos com suas criações. Era o “cara” de Lula. Era o único que dizia o que bem entendesse a Lula, que ouvia tudo com muito respeito. Lula sempre teve a maior confiança nele – disse José Américo, presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo e um dos maiores amigos.

Abnegado militante do PT, Gushiken foi uma das quarenta pessoas acusadas pela Procuradoria-Geral da República no processo do mensalão, mas em 2012 foi retirado da denúncia, por falta de provas. Em função das seguidas doenças, Gushiken deixou o governo definitivamente em 2006. De lá para cá, estava em tratamento por causa do câncer.

Nascido em 8 de agosto de 1950, na pequena cidade de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo, Gushiken era filho do casal de japoneses Shoel e Setsu Gushiken, que vieram para o Brasil no século passado, em busca de melhores dias. Gushiken saiu cedo de casa para ser militante político na capital paulista.

Depois de ter ajudado a fundar o PT em 1980, o ex-funcionário do Banespa desde 1970 e formado em Administração na Fundação Getúlio Vargas, presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo de 1985 a 1987. Gushiken saiu do sindicato direto para a Câmara dos Deputados, se elegendo pela primeira vez em 1986.

Foi deputado federal por três vezes, mas destaque mesmo obteve quando se tornou um dos 16 deputados Constituintes do PT em 1988. Na comissão do Sistema Financeiro, do Sistema Tributário e da Subcomissão dos Direitos dos Trabalhadores, Gushiken teve papel importante na formulação das principais legislações em vigor atualmente. Presidiu o PT nacional de 1988 a 1990.

O câncer o perseguiu por várias vezes. No final da década de 90, derrotou um câncer nos testículos. Nos últimos anos vinha lutando contra um câncer no intestino. Chegou a ter um quadro de septicemia, teve dois choque anafiláticos e ficou internado por meses numa UTI nos últimos tempos.

– Na campanha vitoriosa de Lula em 2002, ele fez uma operação enorme para a retirada de um câncer, mas mesmo abatido quis participar da organização da campanha. Precisamos alugar um flat perto do comitê de campanha para fazermos lá comidas especiais que o Gushiken necessitava. Ele sempre foi um lutador. Resistiu ao câncer por várias vezes. Desta vez, já pediu para os aparelhos serem desligados e passou os últimos dias apenas tomando doses de morfina para não sentir dor – disse o amigo Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula.

A doença o fez ficar místico. Foi budista, passou pela Rosa-Cruz, umbanda, cabala e pelo zen-budismo.
Gushiken deixa a mulher Elizabeth e três filhos. O corpo será velado no tempo Fé Bahá\’´í, e o enterro acontecerá no cemitério do Redentor, em São Paulo.

Fonte: O Globo

Nota da CUT

Morreu Gushiken, um líder nacional

Ser militante sindical numa família japonesa não era fácil, Gushiken teve a coragem de ser.

Ser de esquerda na época da ditadura militar não era fácil, Gushiken teve a coragem de ser.

Enfrentar uma demissão no Banespa por causa da militância política.

Enfrentar um câncer que lhe atrapalharia a vida.

Liderar a maior greve dos bancários que o Brasil já teve e depois organizar o Partido dos Trabalhadores, ajudar na fundação da CUT, liderar o PT e ir para o governo do presidente Lula para ajudar a mudar o Brasil e ainda conseguir tempo para cuidar dos filhos, tudo isto Gushiken enfrentava e fazia ao mesmo tempo.

Dedicar a vida ao mandato parlamentar, combinar as campanhas para deputado com as campanhas para prefeitos, governadores e presidentes, principalmente ajudando Lula.

Já bem doente e com Lula presidente, Gushiken também teve que enfrentar a má fé de parte da Procuradoria Geral da República e da imprensa no famigerado processo da Ação Penal 470, que a mídia apelidou de mensalão, quando todos sabiam que Gushiken era inocente, como foi comprovado pelo Supremo Tribunal Federal anos depois. Gushiken resistiu com dignidade.

Gushiken morre no dia 13. Data simbólica que lembra o partido que ele ajudou a criar e a tornar o maior partido de massa que o Brasil já teve.

Neste sábado, dia 14, os militantes e amigos de todo o Brasil e do mundo, estarão prestando suas homenagens a Gushiken.

O Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Confederação Nacional dos Bancários (Contrad-CUT), o Sindicato dos Bancários de São Paulo e todos os militantes sindicais e partidários estamos de luto.

Nossas condolências e solidariedade a toda Família de Gushiken. Sua esposa Bete, que também militou nos bancários, seus filhos que conviveram com o Sindicato e com tantas reuniões, e seus irmãos e demais familiares. Nós nos sentimos como parte desta enorme família.

Sabemos que todos têm orgulho do exemplo de vida que Gushiken representa. Tantos os familiares, a colônia japonesa, como os colegas do Banespa, os bancários de todo o Brasil, os militantes da CUT e do PT.

Somos todos Gushiken!

Vagner Freitas

Presidente Nacional da CUT


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