Na segunda negociação de 2009, quinta-feira, dia 27, os banqueiros rejeitaram todas as reivindicações dos bancários. Próxima reunião será dia 2, em São Paulo, sobre salários.
Na segunda rodada de negociação da Campanha Nacional 2009, realizada nesta quinta-feira 27 em São Paulo, a Fenaban rejeitou todas as reivindicações apresentadas pelo Comando Nacional dos Bancários relativas ao emprego. Os bancos se recusam a dar garantias de preservação dos postos de trabalho. Não aceitam discutir a contratação de mais trabalhadores nem mecanismos para garantir o cumprimento da jornada de 6 horas. E se negam a reconhecer a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe demissões imotivadas. Tampouco querem discutir a limitação de permanência máxima de 15 minutos nas filas das agências, o que obrigaria os bancos a contratarem mais bancários para melhorar o atendimento à população.
“Mostramos a pesquisa da Contraf-CUT/Dieese sobre a redução de postos de trabalho no primeiro semestre e todos os dados que revelam a sobrecarga de trabalho e a necessidade de os bancos contratarem mais bancários para dar conta da crescente demanda, mas a Fenaban rejeitou todas as nossas reivindicações”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. “É um começo de negociação preocupante, que deve deixar os bancários em alerta e aponta para a necessidade de fortalecer a nossa mobilização para conquistar melhor qualidade de vida à categoria”.
Pelo calendário de negociações definido na primeira rodada, ocorrida no dia 17, o próximo tema a ser discutido com os bancos, no dia 2 de setembro, será a remuneração da categoria, que inclui o índice de reajuste, a valorização dos pisos salariais, o novo modelo de PLR, a contratação da renda variável e demais cláusulas econômicas. No dia 9 de setembro a negociação se concentrará na saúde, segurança, condições de trabalho e cláusulas sociais.
Enquanto lucram, bancos fecham postos de trabalho
Pesquisa realizada pela Contraf-CUT e pelo Dieese, divulgada na terça-feira 25, mostra que os bancos fecharam 2.224 postos de trabalho no primeiro semestre de 2009 e estão usando a rotatividade para reduzir a média salarial dos bancários. As empresas financeiras desligaram 15.459 bancários, principalmente em razão das fusões, e contrataram 13.235 entre janeiro e junho. É uma inversão do que ocorreu no ano passado, quando houve um aumento de 8.754 novas vagas no mesmo período.
“Os bancos estão na contramão do movimento que a economia brasileira está seguindo. Enquanto os demais setores econômicos criaram 300 mil novos postos de trabalho no primeiro semestre com a retomada do crescimento, os bancos, que não sofreram nenhum impacto com a crise, estão fazendo o contrário”, critica Carlos Cordeiro. “Isso é ainda mais injustificável quando sabemos que o sistema financeiro foi o que apresentou a maior rentabilidade de toda a economia no primeiro semestre, quando os 21 maiores bancos somaram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões”.
“Por isso os bancários querem incluir na Convenção Coletiva cláusulas de proteção ao emprego, em especial nos casos de fusões e incorporações, e pressionar os bancos a contratarem mais bancários para atender a crescente demanda e, assim, diminuir a pressão por obtenção de metas, melhorar o atendimento aos clientes e acabar com as filas”, explica Carlos Cordeiro. “A preservação do emprego e a contratação de mais bancários são tão importantes para nós quanto a remuneração”.
Ampliar as contratações
Os dados dos próprios bancos sobre a evolução dos negócios nos últimos anos revelam a necessidade de haver mais contratações. De 2004 a 2008, as operações de crédito dos seis maiores bancos (BB, Caixa, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Real e HSBC) aumentaram de R$ 272 bilhões para R$ 680 bilhões – um salto de 149,3%, enquanto o número de funcionários dessas empresas cresceu em apenas 54 mil (13,3%).
Nesse mesmo período, as receitas de prestação de serviços desses mesmos bancos tiveram um aumento de 62,69% e as operações de crédito registraram 106% de crescimento. “Ao mesmo tempo, vem diminuindo o número de bancários nas agências, piorando o atendimento aos clientes e usuários e aumentando as filas”, diz Marcel Barros, secretário-geral da Contraf-CUT. “Por isso a sobrecarga de trabalho é cada vez maior e a pressão por metas se torna insuportável. Os bancos precisam contratar mais bancários”.
Na negociação desta quinta-feira, o Comando Nacional reivindicou da Fenaban que os bancos repassem aos sindicatos cópia dos dados sobre emprego e remuneração que são fornecidos ao Ministério do Trabalho, mas os representantes das empresas também negaram. “Como pode os bancos, que falam tanto em responsabilidade social e transparência, se recusarem a fornecer esses dados?”, questiona Marcel.
Respeitar a Convenção 158 da OIT
A pesquisa Contraf-CUT/Dieese mostra ainda que os bancos estão utilizando as demissões para diminuir os salários dos bancários. Os desligados no primeiro semestre recebiam remuneração média de R$ 3.627,01. Já os contratados têm remuneração média de R$ 1.928,92, o que representa uma diferença de 46,82% – quase a metade.
Isso porque os desligamentos foram concentrados nos escalões hierárquicos superiores e as admissões ocorrem principalmente nos cargos iniciais da carreira. Esse movimento intensificou a tendência observada no mesmo período do ano passado, quando a diferença entre os salários médios dos bancários contratados e desligados foi de 38,02%.
“É a famigerada rotatividade que prejudica todos os trabalhadores do país. A pesquisa mostra que 61,3% dos bancários que deixaram os bancos foram demitidos sem justa causa e apenas 4% demitidos por justa causa. Para combater essa injustiça defendemos, junto com a CUT, a ratificação pelo governo federal e pelo Congresso Nacional da Convenção 158 da OIT, que inibe a demissão imotivada. Além disso, queremos que os bancos incorporem os princípios da Convenção 158 na convenção coletiva, dando maior proteção e tranquilidade aos trabalhadores, que hoje vivem sob a ameaça constante da demissão”, afirma Carlos Cordeiro.
Os bancos rejeitaram essa reivindicação, afirmando que consideram a Convenção 158 obsoleta, anacrônica, impossível de ser aplicada e que defendem sua revogação.
Prorrogação do acordo
Na primeira rodada de negociação, o Comando Nacional reivindicou a manutenção da data-base em primeiro de setembro e a prorrogação da Convenção Coletiva da categoria até 30 de setembro. Os bancos responderam nesta quinta-feira, concordando com as duas demandas.
Fonte: Contraf-CUT
Foto: Renato Silva/Contraf-CUT