O Dia do Bancário [28/08/2007]

Você que é um simpático cliente, vá até à sua agência bancária, dirija-se a um caixa e deposite um sorriso. Você, certamente, sacará outro. Hoje é o Dia do Bancário que trabalha para o dia-a-dia do banqueiro.
Os sindicatos dos bancários, em todo o Brasil, promovem shows para seus associados com Eduardo Ducheque, Jane Dudoc e Martinho da Fila.
Enquanto isso, os bancos seguem na sua rotina de ganhar até R$24 milhões por dia, ou R$1 milhão por hora, ou R$17 mil por minuto.
Deviam distribuir este lucro pelos bancários neste seu dia.
Banqueiro é tão esperto que transformou o cliente em bancário. O cliente mesmo, no auto-atendimento, saca dinheiro, paga contas, pega talões de cheques.
A minoria que vai ao caixa-gente, sofre na fila. Sobra para o bravo caixa atender os clientes bravos.
Quando falta dinheiro no caixa, quem paga?… O caixa!
Quando sobra?… Fica numa conta do banco.
O que é um assalto a banco perto de abrir um banco? Perguntava BB, o Berthold Brecht.
Por isso, volta e meia um caixa vai ao bar e vira caixaceiro.
Em compensação, tem bancário viciado em banco, é o bancólatra. Adora a agência, chega cedo, almoça correndo, fica além do horário. É o bancário do mês, do ano, da década, até levar um chute por ser velho e caro para o banco.
Vida de bancário não é mole: é pressão do cliente, do gerente, da superintendência, e até da família.
Sexto lugar no ranking das profissões mais estressantes, hoje, ele virou até vendedor. A agência, às vezes, parece a Rua Moreira César.
Não quer fazer um seguro de vida? Pergunta o caixa um pouco inseguro.
Na mesa, a atendente, com tendinite, pergunta se o cliente não quer se descapitalizar fazendo um título de capitalização, enquanto o gerente tenta empurrar uma previdência privada a um quarentão preocupado com seu futuro.
Sem falar no Call Center que liga à noite e até em fim-de-semana pra sua casa para “estar oferecendo” o melhor cartão de crédito do mercado, que “vai estar chegando” em poucos dias e você “vai estar recebendo” essa overdose de gerúndios. Na verdade, eles querem é mais débito em sua pobre conta corrente pra você “estar ficando” ainda mais inadimplente.
Nos anos 70, quando não tinha um sindicato forte, o bancário era chamado de “mendigo de gravata” porque ganhava mal, mas era obrigado a se vestir bem. Hoje sua situação melhorou a custa de muito trabalho e estudo, e ainda está longe do ideal.
Arrancar 0,1% a mais de reajuste do banqueiro é uma façanha. Um presidente do sindicato certa vez afirmou
que é mais fácil negociar com a Taleban do que com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos).
Teve um tempo que o banco era como o banco do carro: confortável, estável. Com a tecnologia e seus caixas eletrônicos ceifando milhares de empregos, o banco deixou de ser ergonômico.
São muitos os bancários vítimas de LER, bursite, hérnia de disco. Se pegam licença-saúde são discriminados, vítimas de assédio imoral e entram pra lista negra do bilhete azul.
Os bancos priorizaram a classe A e o resto que se lasque. Cliente da elite do banco feito pra você pagar tarifas, é Personnalité. E você um Pédechinelité. Cliente fashion do banco que era conhecido como o banco brasileiro dos dez contos, é Prime. Cliente chique do Banco da Deise, é Estilo. Quem não for estiloso, que ganhe na mega-sena para ter um personal gerente.
O mundo dos bancários tem até ditados próprios: Um dia é do caixa, outro do sacador; O uso do carimbo faz a mão torta; Quando o bancário acorda, o banqueiro perde o sono; Feliz como um bancário que ganhou um carimbo novo.
Por tudo isso, salve o Dia do Bancário!
E salve-se quem puder dos banqueiros!
(Nagaho)