Em dezembro, o noticiário foi coberto por ataques de foguetes dos palestinos muçulmanos do Hamas ao território israelense, partindo da Faixa de Gaza, ao sul de Israel, na fronteira com o Egito.
Palestino é o povo que vive na Palestina e que nunca formou um Estado próprio. Hoje, a Palestina está dentro de Israel, um Estado judeu, religião criada pelos hebreus. Na Bíblia, os palestinos são os filisteus, que se fixaram na região no século XII antes de Cristo, 1.000 anos antes de os judeus aparecerem por ali.
Muçulmano é o adepto do Islamismo, religião criada por Maomé, um árabe. Após sua morte, os árabes formaram o Grande Islã, um grande Império. Dentro dele, por cerca de 800 anos, entre os séculos VII e XV, a Palestina, onde seus habitantes assimilaram a cultura árabe, tornando-se muçulmanos.
Hamas é um grupo terrorista palestino, que se tornou também um partido e, em 2006, elegeu a maioria dos parlamentares da Autoridade Nacional Palestina (ANP), onde está localizada a Faixa de Gaza.
ANP é uma região de autonomia limitada, dentro de Israel, criada em 1996, por determinação do Acordo de Oslo entre judeus e palestinos. A região tem autonomia na educação e na administração local, por exemplo. Mas os impostos arrecadados ali vão para o governo de Israel para depois serem repassados – ou não – à ANP. E os palestinos são proibidos de ter Forças Armadas, o que explica sua absoluta inferioridade bélica.
Os foguetes dos “violentos” – como nos impõe a grande mídia – terroristas do Hamas são de envergonhar qualquer traficante de favela carioca, que não comprariam armas iranianas. Lançados de Niterói, chegariam, no máximo, a Maricá. São tão ultrapassados que seus ataques anteriores ao Natal, alardeados pelo noticiário, não fizeram nenhuma vítima. Já Israel tem o que há de mais moderno na indústria bélica, muito em função do apoio dos Estados Unidos, que vêem em Israel uma “ilha” judaico-ocidental, cercada de muçulmanos por todos os lados, uma base militar muitas vezes já usada contra o Mundo Árabe, um terço da Humanidade.
Às vésperas do Natal, surgiram notícias, aparentemente sem propósito, pois não houve nenhum tumulto ou atentado, do constrangimento dos cristãos, ao comemorarem o nascimento de Cristo em uma Jerusalém de maioria muçulmana, encravada na Cisjordânia, parte da ANP, no centro-leste de Israel.
Era a senha para os ataques de mísseis que viriam, irônica e tragicamente, no dia 27, logo depois do Natal, a crônica anunciada na mídia, sem nenhum pudor, pelo primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, recentemente quase expurgado do cargo de primeiro-ministro, sob violentas acusações de corrupção, e que espera eleger sua sucessora, a ministra das Relações ExterioresTzipi Livni, após as eleições parlamentares, que acontecem, “coincidentemente”, em 10 de fevereiro. Aliás, o antecessor de Olmer, o falecido Ariel Sharon, tornou-se primeiro-ministro após invasão à ANP, em dezembro de 2001, também às vésperas de eleições.
Dias depois, aos ataques aéreos se somou a invasão terrestre à Faixa de Gaza.
Resultado, em 22 dias de terrorismo de Estado, 1.157 palestinos foram mortos, entre eles, 410 crianças. Já o terrorismo civil do Hamas matou nove israelenses. Quatro outros judeus, em “fogo amigo” foram mortos pelas próprias Forças Armadas de Israel. E, enquanto você lê este artigo, a conta deve estar se tornando mais cruel, sob a omissão cúmplice dos Estados Unidos, da ONU, da OTAN e até de governantes árabes. Uma tolerância criminosa em relação ao que já é o mais violento ataque a palestinos, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Algum leitor pode estar pensando que, ao escrever contra o governo de Israel, sou preconceituoso, e ataco também o povo israelense e os judeus de todo o mundo. Nesse caso, preconceituoso é o leitor.
Os governos levaram os povos a pensarem que quem é contra o governo é antipatriota, confundindo o governo com o povo. O povo é a maioria e o governo, quase sempre, representa a minoria, a elite econômica.
Uma coisa é o governo, outra coisa é o povo.
Contra a crise econômica, trilhões de dólares públicos – do povo – foram entregues a fundos de previdência, seguradoras, bancos e fábricas de automóveis privados, dinheiro que sempre foi – e continuará sendo – negada pelos governos para o combate à fome no mundo, negado ao povo.
No Brasil, mesmo sob o governo de um Partido dos Trabalhadores, “bilhões” de reais foram dados aos bancos, à elite, que, ainda assim, não reduziram os juros, e “milhões” de reais foram dados às vítimas das enchentes de Santa Catarina, Minas Gerais e do Norte Fluminense, ao povo.
Por que não dão “bilhões” para as vítimas das enchentes e “milhões” para os banqueiros?
Nessa lógica, os judeus de todo o mundo também deveriam repudiar essa carnificina, esse banho de sangue, esse Terrorismo de Estado, que, embora possa eleger Olmert, só aumentará o preconceito, a revolta, o ódio e o terrorismo em Israel e pelo mundo afora, em países que apóiam o governo israelense, a maioria.
Judeus e palestinos estão em conflito há quatro mil anos, desde quando os hebreus chegaram à Palestina, a Terra Prometida, Canaã. Está muito mais do que na hora de um acordo de paz eficaz. Afinal, a região que foi prometida por Deus a Abraão, segundo a crença judaica, e que, por dois mil anos, abrigou o Reino Hebreu, com capital em Jerusalém, se chama Palestina porque os filisteus já estavam lá quando os judeus chegaram. Para os palestinos, aquela não é a Terra Prometida aos judeus, é a terra deles.
Ataques do governo de Israel à Palestina são como surras em filhos. Elas não corrigem, só revoltam.
Texto de Marcelo Quaresma, sindicalista de Niterói e Região e diretor estadual da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil).