FHC

Na frase de abertura do programa do PSDB, lançado em 1988, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso anuncia que o partido nasce sob a proposta de estar “longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas”. Em 2006, em carta aberta aos militantes tucanos, o presidente de honra do PSDB reforça a necessidade de “reatar os fios entre o partido e a sociedade” e recomenda a seus correligionários que busquem o diálogo com os sindicatos e movimentos populares. Neste ano, depois da terceira derrota seguida na disputa presidencial, Fernando Henrique adota um novo discurso e defende que o partido abandone a tentativa de influenciar as bases sociais, a quem chama de “povão” e de “massas carentes e pouco informadas”.

Depois de quase 23 anos da criação do PSDB, FHC, um dos principais formuladores do partido, rompe com teses defendidas e define que o público a ser alcançado não é o mesmo que o PT tem influência.

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Em artigo divulgado ontem (12 de abril) pelo site do PSDB, Fernando Henrique diz que é fundamental para a oposição definir seu público alvo, que não deve ser os movimentos sociais. “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”, escreve FHC no artigo. O foco deve ser a classe média, diz.

Segundo o tucano, as centrais sindicais foram aparelhadas e cooptadas pelo governo federal, assim como os movimentos organizados da sociedade civil. Dessa forma, diz, não há como a oposição competir com o governo da presidente Dilma Rousseff. “[O governo federal] dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.”

A virada no discurso de FHC é radical quando se compara o que ele defendia em 2006, ao articular uma ação por mudanças no PSDB, com o que diz hoje. Em setembro daquele ano, na reta final da campanha presidencial, o tucano registrou em uma carta aberta que não haveria futuro para seu partido na política sem uma aproximação com sindicatos e movimentos sociais. Na época, disse que essa ação resultaria em uma participação ampliada da cidadania na redução das desigualdades sociais. Em seus discursos, FHC dizia que o PSDB tinha de ter “ligação mais forte com movimentos sociais”.

Nas eleições seguintes, de 2008 e 2010, o presidente de honra do PSDB reconheceu que enraizamento popular do partido estava longe de se concretizar e reforçou a necessidade de os dirigentes e militantes se aproximarem das bases sociais. Fernando Henrique defendeu também mudanças na comunicação do partido, para atrair mais eleitores.

Já no artigo de ontem, FHC define não só o público a ser alcançado pelo partido como também a mensagem que a oposição precisa defender. Ao longo do texto, o tucano define como “erro fatal” imaginar que “o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. Em seguida, cita que a oposição deve denunciar a corrupção e “vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população”.

Como exemplo do discurso a ser proferido, escolhe como tema a dívida interna do país. “Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (…) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população”.

Fonte: Valor Econômico, 13 de abril de 2011