O filme “Simonal – Ninguém sabe o duro que eu dei” foi exibido para todos os bancários interessados, dia 23, com o diretor do filme e os sindicalistas Marcelo Quaresma e Marcial Maiato.
O filme “Simonal – Ninguém sabe o duro que eu dei” foi exibido na Federação dos Bancários dos Estados do Rio e Espírito Santo, seguido de debate com um dos diretores do filme, Micael Langer (primeiro à esquerda, na foto). O Sindicato dos Bancários de Niterói e Região participou, com os dirigentes sindicais Marcelo Quaresma (em pé, na foto) e Marcial Maiato.
O debate foi importante porque, além de obra de arte nacional de qualidade e da questão da cultura, discute o preconceito que o cantor sofreu pelas acusações de ter colaborado com a ditadura militar no Brasil.
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Entrevista com diretor do filme
Ele acredita na inocência de Simonal
(entrevista dada à jornalista Renata Silver para o boletim Unidade, da Federação dos Bancários dos Estados do Rio e Espírito Santo)
Micael Langer é um dos diretores do documentário “Ninguém sabe o duro que eu dei”, sobre o cantor Wilson Simonal. Ao lado de Cláudio Manoel e Calvito Leal, vasculhou a memória de artistas e celebridades que conviveram com o cantor, investigou o paradeiro do contador que foi o pivô do envolvimento de Simonal com o Dops e prescrutou imagens de arquivo para montar um filme que tentou explicar o fenômeno e absolver o homem. No último dia 23, durante o debate na Federação, após a exibição do filme, deixou claro que acredita na inocência do cantor e considera uma injustiça o isolamento que ele sofreu após ser acusado de delator. Depois do debate, Micael conversou com o UNIDADE:
Depois que Simonal foi apontado como delator, os artistas passaram a evitá-lo mais para se protegerem do que pela intenção de o boicotarem?
Com certeza. Foi como o Boni falou (em seu depoimento no documentário): as pessoas se arrependeram muito mais pelo que deixaram de fazer do que pelo que fizeram. Essa imagem que as pessoas têm de terem feito alguma coisa é que cai naquela arapuca da teoria da conspiração. O ser humano é muito mais simples que isso, as pessoas se afastaram, os boatos vão rolando e vira aquela verdade absoluta que o Paulo Vanzolini falou. Perguntaram a ele “Quem disse que ele era delator?” e ele respondeu “Ah, não sei, todo mundo falava!”
É leviano responsabilizar a mídia da época pelo linchamento?
Não sei até que ponto. Quem checava todas as fontes naquela época? O jornalismo não tinha ainda se estruturado, não tinha faculdade de jornalismo. Faltou uma averiguação, sim, mas é muito fácil cobrar isso hoje em dia. As informações vinham de uma forma que é fácil entender como as pessoas assimilaram aquilo. Se a gente vivesse naquela época talvez também achasse isso. É muito fácil cobrar hoje atitude das pessoas daquela época. Prefiro me abster e tentar averiguar depois.
Você mencionou durante o debate que os seguranças do Simonal levaram o contador para o DOPS porque eles eram policiais do órgão que faziam “bico” como seguranças. Por que isso ficou fora do filme?
Porque não tivemos como comprovar, é uma informação que está no livro (“Nem vem que não tem – a vida e o veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre”). Também acho que é um detalhe. Que diferença faz mandar bater no cara no DOPS, no galinheiro, atrás da igreja ou numa delegacia normal? Ele mandou bater no cara, está errado. Mas só pelo fato de ter sido no DOPS não prova culpa de ninguém, muito menos tem a ver com ser dedo-duro. Quer dizer que a pessoa pisou no DOPS, é dedo-duro? Acho que as pessoas pulam muito rápido às conclusões. Para mim, pelo menos, isso não quer dizer nada.
Para os três diretores, qual foi a maior dificuldade para se chegar às informações: as pessoas que não queriam falar ou o grande volume de detalhes que ainda não tinham sido revelados?
Têm as pessoas que não querem falar, tem as agendas das pessoas, as agendas de nós três, que são complicadas, tem a falta de dinheiro, porque fizemos o filme sem isenção fiscal. Tem a dificuldade de encontrar imagens de arquivos, que nem mencionamos aqui, que é um absurdo. Não existe mesmo memória no Brasil, para se achar uma imagem dessas é um sufoco, um labirinto. Tudo é muito difícil. E você esbarra em situações de pessoas que não querem autorizar o uso de suas imagens, não querem dar entrevista. Mas você respira fundo e vai em frente.
Para vocês três que dirigiram o filme, a delação do Simonal existiu ou é como a traição de Capitu, que cada um tem uma opinião?
Nós temos uma conclusão, sim. Nós que tivemos contato com tudo – e, volto a dizer, não estou aqui para dar a verdade absoluta, nem sou judiciário para absolver ninguém, até porque ele nunca foi condenado por ser dedo-duro, porque isso não é crime. Inclusive, naquela época, você estaria defendendo o governo. Mas se você me perguntar, acho que fica notório que ele não teria por que ser dedo-duro, não teria as ferramentas para ser dedo-duro, não teria a motivação e muito menos a inclinação para ser. Acho muito fantasioso, de querer achar alguém para culpar por todos os males e ele caiu como uma luva. Ele já não era bem quisto por muitas pessoas e aparece a figura dele, foi o demônio. Puseram dois chifres na cabeça dele e virou isso. E, volto a dizer, serviu muito bem tanto à esquerda quanto à direita. Para todo mundo estava ótimo, menos para ele.
Polêmica bem-vinda
(artigo de Sérgio Ricardo Farias, diretor da Federação que mediou o debate após a exibição do documentário)
A exibição do documentário com a biografia de Wilson Simonal na Federação no último dia 23 provocou muita polêmica. A fama de delator tornou Simonal persona non grata entre toda a esquerda e, depois de todo esse tempo e contra todas as evidências de sua inocência, o suposto crime ainda permanece sem perdão. Particularmente acredito que a acusação não passa de boato, um boato que cresceu no terreno fértil da repressão e do medo. Ao que tudo indica – e que vemos hoje com olhos um pouco menos viciados – Simonal não tinha interesse ou conhecimento para delatar quem quer que fosse. Mas isso é somente uma opinião, a minha. Cada um que tire as conclusões que lhe parecerem mais sensatas.
O objetivo principal da exibição do filme não foi forçar ninguém a admitir um suposto erro de julgamento. Quisemos, simplesmente, resgatar um pouco da história musical de nosso país e, principalmente, provocar um debate.
Há muito o movimento sindical deixou de discutir, de defender ou rechaçar apaixonadamente assuntos que não sejam do estrito interesse da categoria e das relações entre empregados e patrões. A exibição do documentário sobre Wilson Simonal teve a capacidade de reacender o fogo do debate que por tanto tempo caracterizou o sindicalismo como um movimento de vanguarda, lançador das idéias que transformam a sociedade. Para nós, que organizamos o evento, as reações dos presentes, ao invés de nos irritarem ou magoarem, trouxeram a satisfação de dever cumprido.
Foto: Paulo de Tarso/Feeb RJ-ES