O anúncio do Bradesco, na compra do Digio mostrou que a “parceria” feita com o Banco do Brasil era, na verdade, uma estratégia para o segundo maior banco privado do país adquirir os 49,99% restante da plataforma digital que pertencia à instituição pública, pelo valor de R$625 milhões. O negócio confirma que os bancos privados querem apenas a fatia mais lucrativa do sistema financeiro sem nenhum compromisso com o desenvolvimento social e econômico do Brasil, missão só desempenhada pelos bancos públicos. A negociata mostra a importância das instituições publicadas atacadas por um projeto fatiado de privatização comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Mas a compra mostra um outro lado grave da negociação: o avanço cada vez maior dos grandes bancos privados em fintechs e plataformas digitais, que tem resultado no fechamento de milhares agências físicas e demissões em massa.
É o caso do Bradesco. O vice-presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, anunciou em entrevista ao jornal Valor Econômico, na última segunda-feira (11), que o banco pretende ter uma “Unilever de fintechs”, referindo-se a uma das maiores indústrias de bens de consumo do mundo para mostrar a estratégia do Bradesco de avançar cada vez mais no mundo digital.
Chega de demissões
O Sindicato está preocupado com a tendência que tem como “fundo de pano” aumentar ainda mais lucros com a redução de despesas administrativas das unidades físicas (aluguel, energia elétrica, equipamentos de segurança) e com mão de obra.
“O avanço tecnológico é inevitável, mas os bancos privados têm pressa em avançar plataformas digitais não para facilitar a vida do cliente, mas sim, para reduzir custos e demitir trabalhadores, sem nenhum compromisso social. Queremos debater com o Bradesco a garantia dos empregos dos bancários e bancárias”, disse o diretor do Sindicato do Rio e membro da COE (Comissão de Organização dos Empregados), Leuver Ludolff. O sindicalista lembra ainda que o Brasil possui um abismo social que faz com que haja ainda uma enorme demanda por mais unidades físicas.
“É só ver como as agências estão, abarrotadas de clientes, com filas enormes, especialmente nas regiões mais pobre das cidades. Os funcionários estão sobrecarregados para o atendimento ao público e o banco não para de extinguir unidades físicas e demitir trabalhadores”, explica Leuver.
Negócios nebulosos
Chama a atenção também o uso dos bancos públicos pelo ministro da Economia Paulo Guedes para beneficiar o sistema financeiro privado em negócios convidativos. Guedes entregou uma carteira de créditos do Banco do Brasil para o BTG Pactual, em julho deste ano. A instituição financeira foi criada pelo próprio Guedes (O “G” no nome do banco é de Guedes).
Mas o negócio nebuloso só foi rentável para o banco privado: O BB nunca havia operacionalizado direitos de crédito a uma instituição privada e o valor chama a atenção: a carteira, cujo valor contábil é de R$ 2,9 bilhões, foi cedida por R$ 371 milhões – ou seja, por cerca de 12% do valor total.
E agora mais esta sociedade, agora do Bradesco com o BB em que, mais uma vez, o banco privado é quem sai ganhando com a negociação economizando cerca de 2,630 bilhões na compra do Digio, a fintech que surgiu como “parceria” entre os dois bancos.
“É no mínimo estranho a forma com que os bancos privados estão faturando em negócios facilitados pelo governo para que os banqueiros faturem ainda mais dinheiro”, critica Leuver.