Pesquisa revela que, até setembro, Brasil já teve uma média de 4,2 mortes por mês em assaltos envolvendo bancos. O crescimento é de 111,11% em relação a 2010.
Nova pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e da Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) revela que 38 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos até setembro de 2011 em todo país, uma média de 4,2 mortes por mês. O levantamento foi realizado pelas entidades com base em notícias da imprensa, com apoio do Dieese.
O número já ultrapassa os casos verificados nos primeiros nove meses de 2010, quando ocorreram 18 mortes, um crescimento de 111,11%. O mais preocupante é que essas ocorrências já superaram o total de mortes de todo ano passado, quando foram apurados 23 óbitos.
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São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás foram os estados com o maior número de casos. A principal ocorrência foi o crime de “saidinha de banco”, que provocou 24 mortes. Já a maioria das vítimas foram clientes (27), seguido de vigilantes (6) e policiais (3).
Para a Contraf-CUT e a CNTV, essas mortes refletem a carência de investimentos dos bancos na proteção da vida de trabalhadores e clientes. Segundo dados do Dieese, no primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos que operam no país apresentaram lucros de R$ 25,33 bilhões. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 1,29 bilhão, o que representa somente 5,09%, em média, na comparação com os lucros.
“Essas mortes comprovam o descaso e a escassez de investimentos dos bancos para prevenir assaltos e sequestros, bem como revela a precariedade da segurança pública diante da falta de mais policiais e viaturas nas ruas e ações de inteligência para evitar ações criminosas”, avalia o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.
“Esses números assustadores reforçam a necessidade de atualizar a lei federal nº 7.102/83, que se encontra defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade. Precisamos de um estatuto de segurança privada com medidas eficazes e equipamentos de prevenção para proteger a vida de trabalhadores e clientes, eliminar riscos e garantir segurança”, salienta o presidente da CNTV, José Boaventura Santos.
Mortes por estados
São Paulo registra não somente o maior número de ocorrências, mas também o maior crescimento na comparação entre os primeiros nove meses de 2010 e 2011. O total de mortes saltou de 3 para 14, uma evolução assustadora de 366,67%.
O Rio de Janeiro está em segundo lugar. O número de assassinatos passou de 2 para 8 no período, um crescimento preocupante de 300%. Em seguida aparecem Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná.
“Em todos os estados, a solução depende dos bancos, que têm de ampliar os investimentos em equipamentos de prevenção, e das autoridades de segurança pública, que precisam garantir mais policiais e viaturas nas ruas e ações integradas de inteligência policial, dentre outras medidas”, salienta Boaventura.
Tipos de ocorrências
O levantamento aponta que o crime de “saidinha de banco” disparou e lidera com 38,8% o tipo de mortes em assaltos envolvendo bancos. Enquanto nos primeiros nove meses de 2010 foram verificadas 7 ocorrências, o número cresceu para 27 no mesmo período deste ano, um aumento de 285%.
A Contraf-CUT e a CNTV defendem medidas preventivas que visem enfrentar essa ação criminosa. “Esse crime começa dentro dos bancos e, para combatê-lo, é preciso evitar a visualização dos saques de clientes nos bancos por olheiros, através da instalação de divisórias individualizadas nos caixas, inclusive eletrônicos, e biombos entre a fila de espera e os caixas”, destaca Cordeiro. “Proibir o uso do celular nos bancos é medida ingênua, inócua e ineficaz”, salienta.
“Além disso, é fundamental a colocação de portas de segurança com detectores de metais antes do autoatendimento, câmeras internas e externas de monitoramento em tempo real nos espaços de circulação de clientes e vidros blindados nas fachadas”, aponta Boaventura.
Outra medida é a isenção de tarifas de transferência de recursos (DOC, TED, ordenas de pagamento), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça. “Muitos clientes sacam valores expressivos para não pagar tarifas e viram alvos de assaltantes”, justifica Cordeiro.
Outro crime que preocupa é o transporte de valores, que dobrou no período. “Ocorreram duas mortes nos primeiros nove meses deste ano, ambos de policiais que faziam ‘bico’, o que é ilegal e mata”, afirma Boaventura. “Esse serviço deve ser prestado por vigilantes, de acordo com o que estabelece a lei federal nº 7.102/83”, destaca.
“Conquistamos uma nova cláusula na convenção coletiva deste ano, proibindo que os bancos utilizem funcionários para fazer transporte de valores”, destaca Cordeiro. “Várias instituições têm utilizado ilegalmente bancários, conforme revelam as multas aplicadas pela Polícia Federal”, explica o presidente da Contraf-CUT.
Também preocupa a insegurança no abastecimento de caixas eletrônicos. “Queremos o fim da contagem e do manuseio de numerário para acabar com as mortes e garantir segurança para trabalhadores e clientes”, enfatiza Boaventura.
Perfil das vítimas
A pesquisa revela que os clientes são cada vez mais as principais vítimas em assaltos envolvendo bancos. Na comparação entre os primeiros nove meses de 2010 e 2011, o número de mortes subiu de 9 para 26, um crescimento de 160%. Quase todos foram assassinados em “saidinhas de banco”.
“Os bancos não podem continuar tratando a ‘saidinha de banco’ como problema de segurança pública ou então responsabilizar os clientes”, avalia Boaventura. “Os bancos têm que adotar medidas concretas para combater essa ação criminosa que está tirando a vida de pessoas pelo simples fato de que sacaram dinheiro em condições inseguras”, alerta.
Os vigilantes ocupam o segundo lugar entre as vítimas, seguidos de transeuntes, bancários, policiais e outras pessoas. “Os bancos e as empresas de vigilância têm que ampliar equipamentos de prevenção e garantir melhores condições de trabalho, pois é inaceitável que os trabalhadores continuem sendo vítimas da carência de investimentos”, ressalta o presidente da CNTV.
Carência de investimentos dos bancos
Conforme estudo feito pela Subseção do Dieese da Contraf-CUT, com base nos balanços publicados no primeiro semestre, os cinco maiores bancos que operam no país apresentaram lucros de R$ 25,33 bilhões, enquanto as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 1,29 bilhão, o que representa somente 5,09%, em média.
“Esses dados comprovam tecnicamente o que vimos observando há muito tempo: os bancos não priorizam a vida das pessoas, pois gastam muito pouco com segurança em comparação com os seus lucros estrondosos”, salienta Cordeiro.
“Está na hora de os bancos tratarem as despesas de segurança e vigilância como investimentos, colocando a vida das pessoas em primeiro lugar, a fim de acabar com essas mortes em assaltos, além de feridos e traumatizados”, aponta Boaventura.
“Os estabelecimentos não podem continuar vulneráveis, expondo ao risco a vida das pessoas, especialmente clientes e trabalhadores, que acabam sendo vítimas de assaltantes cada vez mais atrevidos e aparelhados”, conclui o presidente da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT