Quinta, 28 Março 2024

Facebook

Conferência reflete sobre home office e tendências do sistema financeiro

Publicado em Notícias Sábado, 18 Julho 2020 19:37

 

Durante mesa de debates realizada neste sábado durante a da 22ª Conferência Nacional dos Bancários, a digitalização, redução de postos de trabalho e o fechamento de agências voltaram a ser debatidos por membros do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). E a conclusão tirada é que a tendência pós-pandemia é de perda de postos de trabalho.

 

Participaram da mesa a socióloga Bárbara Vallejos e o economista Gustavo Cavarzan (Dieese) e o advogado da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Jefferson Martins de Oliveira. O debate foi iniciado por Gustavo, que apresentou dados sobre as “Tendências do setor financeiro pós-pandemia”, com destaque para a digitalização e o teletrabalho.

 

Para retomar a rentabilidade dos últimos anos, segundo o economista, é provável que a reação mais imediata dos bancos se concentre em uma dupla estratégia de redução de custos fixos (despesas de pessoal e despesas administrativas). “Isso já vinha ocorrendo e, como indicam notícias veiculadas pela imprensa, deve se intensificar”, observou Cavarzan.

 

Outro indicativo de que os bancos vão ampliar ainda mais a digitalização é a ampliação do orçamento de tecnologia, que chegou ao valor recorde de R$ 24,6 bilhões em 2019. “Esse processo se acelerou durante a pandemia. O uso da modalidade ‘mobile banking’ cresceu de 57% para 67% entre janeiro e abril de 2020. E o atendimento por robôs cresceu 78% no mesmo período”, informou o economista do Dieese.

 

Entre 2013 e 2019 houve uma redução de 70 mil postos de trabalho nos bancos e o fechamento de 3.400 agências físicas, segundo os dados apresentados pelo economista do Dieese. “Esta é outra tendência que já vinha ocorrendo e que pode ser intensificada com busca de redução de custo e a continuidade do teletrabalho, mesmo após a pandemia.

 

Home office - Bárbara foi a responsável pela síntese a análise dos resultados da pesquisa sobre o teletrabalho, realizado pela categoria em home office. Os dados da pesquisa mostram que o teletrabalho afetou a rotina familiar e de serviço doméstico da categoria e até o ambiente, com a transformação da sala ou quarto em estação de trabalho.

 

“Essas mudanças afetaram ainda mais as mulheres. Para elas, é mais difícil conciliar as relações familiares e domésticas do que para os homens. O mesmo se observa quando há filhos em idade escolar nos domicílios”, afirmou a socióloga.

 

Os bancários também avaliaram mal a estrutura ergonômica que têm à disposição para o trabalho em casa e disseram que é preciso melhorar a comunicação e a gestão dos bancos. Muitos sequer sabem se existe canal para atender novas necessidades para a execução do teletrabalho.

 

A pesquisa mostrou, ainda, que 35,6% dos bancários que estão trabalhando em casa perceberam que estão trabalhando além da jornada. “E é importante verificar que 26% deles não estão recebendo hora extra e nem participam de banco de horas”, observou a socióloga. Do total dos bancários que estão em home office, 36% disseram ser mais difícil o cumprimento de metas e a comunicação com outras áreas.

 

Saúde - A pesquisa também aponta que a nova rotina de trabalho também causou impactos na saúde da categoria. Para muitos, os problemas que já existiam de forma presencial permanecem, como sempre se manter preocupado com o trabalho, ansiedade, cansaço e fadiga, dores musculares e nas articulações.

 

Na nova situação, o medo de ser esquecido e a dificuldade de concentração foram adicionados à lista de problemas. Para reduzir estes problemas, os bancários acreditam que os bancos precisam fornecer melhores equipamentos e disponibilizar um canal de atendimento de um médico do trabalho.

 

Aumento de custo X redução de direitos - A pesquisa também apontou que parte da categoria sofreu perda do vale transporte/gasolina. E, em contrapartida, viram seus gastos com contas de energia elétrica e de supermercado aumentarem.

 

Eles acreditam que, numa possível negociação sobre a manutenção do trabalho home office, é importante tratar sobre a concessão de equipamentos e infraestrutura pelo banco, bem como ações para minimizar os impactos na saúde, garantir o pagamento de hora extra, receber reembolso de despesas, bem como um auxilio home office de valor fixo. Boa parte aceita realizar um regime misto de home office e presencial, mas acham importante que os bancários haver um auxílio alimentação adicional e querem a garantida de uma frequência semanal no local de trabalho.

 

Legislação do teletrabalho - Jefferson Martins de Oliveira, assessor jurídico da Contraf-CUT, afirmou que a questão da legislação do teletrabalho – que é o trabalho realizado fora das dependências do empregador e com o uso da tecnologia de informação e comunicação – é algo bastante recente e a legislação demora a se adaptar isso.

 

“O regramento que existe hoje é muito insuficiente e, por ser insuficiente, é necessário que a negociação coletiva faça a adequação setorial para o setor bancário do que é estabelecido na CLT para o que efetivamente ocorre com os bancários”, apontou.

 

O assessor jurídico da Contraf-CUT lembrou que foram feitas apenas duas alterações legislativas visando atender essa nova situação: em 2011, fora dos moldes que temos hoje, e na Reforma Trabalhista, com a inclusão de cinco artigos que definem o que é teletrabalho juridicamente.

 

“É essencial que a maior parte do tempo você esteja fora das dependências do empregador para ser considerado teletrabalho. A transformação do seu regime presencial para o teletrabalho só é possível com um mútuo acordo, mas o contrário não é verdade, basta o empregador avisar com 15 dias de antecedência. E tudo isso tem que ser feito através de um aditivo em seu contrato. Toda e qualquer alteração a respeito da responsabilidade do fornecimento e manutenção dos equipamentos necessários para a realização do teletrabalho terá que ser discutido e pactuada neste instrumento aditivo, que vai regrar as condições do seu trabalho", disse.

 

Também é responsabilidade do empregador zelar pela saúde do funcionário. "Outra questão importante é quando chega ao acordo de mudança do regime presencial para o regime de trabalho, o empregador necessariamente deve, de maneira expressa e ostensiva, orientar o trabalhador sobre formas de evitar doenças e acidentes de trabalho”, concluiu.